IX FECIMA 
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MEMÓRIAS
MEMÓRIAS


     
  FECIMA, UM FESTIVAL TODO ESPECIAL: RECORDAÇÕES

 
  Imagine um mergulho extasiante na cultura amazônida, entre banzeiros do imaginário e maresias do real. É essa a proposta de um dos festivais nacionais que vêm ganhando solidez a partir de uma pequena cidade no interior do oeste paraense. O Festival de Cultura, Identidade e Memória Amazônida de Óbidos, conhecido como FECIMA, está em sua sétima edição anual, com a proposta de debater a produção da Cultura, da Memória e da Identidade no Baixo Amazonas, sua relação com o que é produzido em nível regional, nacional e internacional quanto aos patrimônios materiais e imateriais brasileiros.

Idealizado pelo Programa de Pesquisa e Extensão Cultura, Identidade e Memória na Amazônia, do Instituto de Formação Interdisciplinar e Intercultural (IFII), da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e realizado anualmente, o Festival abre espaço para que durante três dias os participantes arregacem suas mangas e partam para rodas de conversa, mesas-redondas literárias, históricas e culturais, contação de histórias infantis amazônidas, expedições geológicas ao Estreito de Óbidos, expedições ambientais e culturais na Serra da Escama, caminhadas históricas pelo Museu Contextual de Óbidos, expressões poéticas e musicais e apresentações folclóricas e teatrais nas noites culturais, além de diversas oficinas e minicursos que ajudam os participantes a ampliar sua compreensão e suas ações em vista da preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Ambiental e Memorial da Amazônia. O FECIMA surgiu a partir da necessidade regional de colocar em pauta discussões sobre o estágio em que se encontram as diversas manifestações culturais, principalmente aquelas ocorrentes no Baixo Amazonas.

A escolha de Óbidos para sediar o evento não podia ser mais feliz. Uma das cidades mais importantes no cenário artístico, poético, cultural e literário da região amazônica, ela é reconhecida como a mais portuguesa das cidades paraenses. Isto porque sua fundação ocorre espelhada em sua coirmã portuguesa, situada próximo a Lisboa. Fundada em 1697, Óbidos do Pará herdou vários aspectos da cultura do colonizador português, conforme pode ser percebido logo em um primeiro olhar sobre a cidade.

Na medida em que se vai percorrendo as ruas estreitas e ladeiradas do centro urbano, planejadas com traçados regulares na topografia acidental, indo sempre em direção à beira do Estreito, vai-se tendo a impressão de estar sendo transportado para o passado. O centro com suas edificações coloniais na forma de sobrados e casarões, alguns com eira e beira, os pequenos mercados e mercearias, os monumentos religiosos e as casas governamentais, alguns construídos nos séculos XVII e XVIII e outros mais recentes que datam dos séculos XIX e XX, formam um cenário inesquecível da herança cultural dos tempos portugueses na região amazônica.

Em suas costas, como costumam comentar os obidenses, localiza-se a parte mais estreita (1,9km de uma margem a outra) e profunda (100m aproximados) do Rio Amazonas, conhecida como a Garganta do Rio Amazonas. Isso fez com que ainda no século XVII os portugueses adotassem o local como ponto estratégico na consolidação do seu domínio sobre a Amazônia.

Por conta dessa localização, e por haver uma Serra a sua frente conhecida como Serra da Escama, os portugueses decidiram construir um forte para o controle de embarcações que passassem por ali e para a cobrança de impostos devidos à Coroa Real Portuguesa. Chamado de Forte Pauxis, ele é símbolo da fundação do município, e recebeu esse nome devido à existência na época de uma tribo de índios conhecida como Pauxis. Na Serra da Escama, com sua densa floresta e avistada do Forte Pauxis, o exército brasileiro no início do século XX ergueu a Fortaleza Gurjão com o objetivo de proteger a região de possíveis invasores e como base de apoio ao processo demarcatório de fronteiras.

De monumentos históricos Óbidos não pode reclamar. Há a Igreja de Sant´Ana, símbolo e herança religiosa dos portugueses. Erguida em 1827, com uma fachada no formato colonial voltada para o Rio-Mar e servindo de cenário ostentoso aos que a visitam, ela é uma homenagem à santa protetora dos religiosos Capuchos da Piedade, vindos da cidade do Porto com o objetivo de promover a catequese aos índios Pauxis e promover serviços religiosos aos filhos obidenses. Nessa Igreja ocorre todos os anos, no mês de julho, o tradicional Círio de Sant´Ana.

Há ainda a Capela do Bom Jesus, levantada em meados do século XIX como promessa dos municipais de lutar para nunca mais haver guerras na região, tais como a Cabanagem. Outro monumento imponente de Óbidos é o antigo Quartel do Exército, conhecido hoje como Casa da Cultura, que teve papel fundamental durante o movimento tenentista brasileiro nos anos trinta. Sua construção data de 1909.

Óbidos se destaca também por terem nascidos nela grandes ícones nacionais na política, nas artes e, principalmente, na literatura. Entre os ilustres da cidade destacam-se dois escritores e romancistas, José Veríssimo e Inglez de Souza, que se juntaram a Artur Azevedo, Olavo Bilac, Filinto de Almeida e o mais ilustre deles, Machado de Assis, entre outros para idealizar e fundar a Academia Brasileira de Letras. Além de Sousa e Veríssimo, a cidade presenteia a literatura com Ildefonso Guimarães e o poeta Saladino de Brito. Na política, Manuel Francisco Machado, conhecido como Barão do Solimões, o último presidente da Província do Grão-Pará no período pré-republicano brasileiro e Pedro Pomar, fundador do Partido Comunista do Brasil – PC do B –, são filhos de Óbidos.

Outro aspecto que faz a cidade presépio ser tão importante no cenário amazônico é o fato dela ter sido o ponto de encontro nem sempre harmonioso das culturas indígenas (Pauxis, Konduris, Wai-Wai, Tyriós, Abarés, Kaxuyanas, Mundurucus e Mauês), europeias (Portuguesas e Italianas), africanas (Bantus e Yorubás) e judaicas (marroquinas). Cada uma dessas culturas contribuiu na formação do povo obidense e, em dimensões maiores, na formação do povo da Amazônia.

Todo esse rico patrimônio histórico, cultural, memorial e natural, e a vocação incondicional para a cultura candidata Óbidos ao título de “A Sentinela da Cultura Amazônida”, assumindo o papel de ser a vigilante na preservação dos patrimônios materiais e imateriais e servindo de polo irradiador das diversas manifestações culturais amazônidas, tendo no FECIMA, o espaço ideal para a expressão dessa vocação. O VIII FECIMA ocorrerá nos dias 30 e 31 de Outubro e 01 de Novembro, com a temática: “TRAVESSIAS CULTURAIS NO SOPÉ DO TRAVESSO RIO AMAZONAS”. Os debates serão focados no resgate memorial das manifestações folclóricas e populares, na importância da região para a compreensão da história da Amazônia no cenário nacional e global, e nas atividades artístico-culturais das cidades do oeste paraense, apresentando como fio condutor a diversidade patrimonial enquanto fonte de identidade amazônida gerada e gerida a partir das águas do rio Amazonas.

Com o Festival, Óbidos consolida sua missão de espalhar o saber cultural por todo o “torrão” amazônida e contribui para o engrandecimento cultural do Pará e do Brasil. Enfim, entre expressão de identidades e lugar de memórias, o convite é para um mergulho. Mergulho despretensioso no instante, um instante que se torna eterno mergulho extasiante na cultura amazônida.